Vanessa Conz, Porto Alegre

Viagem ao frio do mundo!

Frio e viagens longas são assuntos temíveis para mim. No inverno pouco rigoroso de Porto Alegre, minhas mãos e pés ficam dormentes com facilidade devido a uma síndrome chamada Raynaud e por isso devo usar luvas como minha própria pele.

Além do inverno, sofro com viagens longas de qualquer tipo por sentir náuseas com facilidade. Como a vida é surpreendente casei com uma pessoa cujo maior sonho era o de conhecer a Antártica. Quando começaram os planos, racionalmente decidi não participar desta viagem, pois ela compreenderia enjoos múltiplos e frio intenso. Entretanto, fui fisgada pelas pelos charmosos pinguins dos catálogos e ao mesmo tempo pelo medo do arrependimento.

Era janeiro, portanto auge do verão em Porto Alegre quando nós partimos a bordo de um navio que saiu do fim do mundo (Ushuaia, na Argentina) rumo ao continente que possui o ar mais puro do planeta. Nosso itinerário de 12 dias compreendia 5 deles com desembarques. Nos primeiros dois dias, enquanto a expedição oferecia palestras sobre o que encontraríamos no continente branquinho, os dois oceanos Pacífico e Atlântico se encontravam no mar aberto e eu tentava encontrar os sacos de indisposição alimentar. Enjoos afetam a maioria dos passageiros durante a passagem do Drake, nome dado ao trajeto que liga o fim do mundo ao continente gelado. Eu passei dois dias praticamente deitada e pálida como um bloco de neve. 

No terceiro dia de viagem, quando os primeiros icebergs começaram a aparecer, o mar acalmou e os problemas de enjoo foram esquecidos. Os icebergs tornaram-se tão comuns quantos nuvens no céu e os primeiros pinguins logo apareceram brincando na água. No dia seguinte, pisamos pela primeira vez na Antarctica e fomos recebidos com um silêncio desconcertante. De repente, nossas vozes pareciam altas demais e as palavras morriam de vergonha das paisagens.

As montanhas cobertas de neve se confundiam com as nuvens formando um tecido branco de diferentes texturas. O céu nos mostrou um azul que nunca existira. A paz era continuamente sentida e não havia sequer insetos para nos distrair.Os únicos barulhos encontrados vieram das colônias de pinguins e eventuais pássaros. Pinguins não possuem predadores naturais em terra e ao nos aproximarmos respeitando uma distância mínima pudemos assisti-los cuidando dos filhotes.

Enquanto isso, focas literalmente pairavam preguiçosas sobre os icebergs. Para nós, o momento mais emocionante de contato com a fauna foi quando uma baleia se aproximou de nosso bote enquanto voltávamos para o navio no fim da tarde. Ver aquele animal tão grande a poucos metros de nossas mãos lançando sua cauda para o alto e mergulhando como se quisesse nos surpreender me fez chorar de alegria e ignorar qualquer medo.Para completar o sentimento de universo a parte, o sol se põe muito tarde no verão sempre atrás de montanhas de gelo ou icebergs. O nascer do sol ocorre poucas horas depois e, portanto sempre há uma luminosidade. O ambiente nos inspirava constantemente, tanto que quando chegava à noite, aproveitávamos para escrever e desenhar.Abraços,

 

Vanessa Conz, Porto Alegre a bordo do Ocean Nova Jan 24, 2012

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