Daniela S. , SP

Enquanto escrevo este post, olho de relance para cima e conto na minha estante mais de 40 livros relacionados com os temas Antártica e Ártico. Ao longo dos últimos 25 anos, eu tenho cultivado através da leitura o sonho de ir para a Antártica.

Não imaginava como nem estipulei prazo, mas eu sabia que seria especial e em grande estilo. O sonho se transformou em projeto quando defini que era imprescindível incluir a South Georgia no itinerário, pois a ilha é conhecida como o "Serengueti" da Antártica, a riqueza de fauna com Pinguins Rei, elefantes marinhos, focas, pássaros, além das montanhas escarpadas e principalmente por ser o local onde está enterrado o maior ícone da era heróica da exploração polar: Ernest Henry Shacketon.

A partir de 2014, foram criadas então viagens à Antártica visando celebrar a expedição Imperial Trans-Antártica de Shackleton a bordo do Endurance em 1914. Uma viagem especial, centenária, dedicada aos apaixonados por história da exploração polar, por shackleton, passando por lugares e recriando a sua epopéia. Fiquei maravilhada. Era isso!

Essa era a ocasião que eu tanto esperei ao longo de uma vida inteira dedicada ao estudo auto-didático das regiões polares. Eu já sabia o que queria, e teria apenas 3 temporadas para tentar uma vaga em uma dessas expedições, praticamente 1 ou 2 viagens por temporada (2014/2015 2015/2016 e 2016/2017).

Um ano depois, em 2015, em uma expedição médica voluntária na Amazônia, conversando com um colega que já viajado 15 vezes para a Antártica, algumas delas com o Amyr Klink, mencionei meu sonho e ele imediatamente disse: "você tem que ir com a Zelfa". Assim que entrei em contato com a Zelfa, percebi que finalmente tinha encontrado alguém que poderia me ajudar. Ela me respondeu prontamente e me ofereceu informações importantes e vários roteiros mas Zelfa, tinha que ser a expedição centenária do Endurance lembra? Ficamos quase 2 anos procurando algo que se encaixasse no meu perfil. E nesse ano de 2016, na última temporada, na última semana e na última vaga, a Zelfa conseguiu. Posso ouví-la no telefone ou nas nossas conversas nos infindáveis e-mails que trocamos dizendo: "Guria, Tu vai para as Geórgias do Sul!". (ela fala mesmo assim no plural e é fantástico).

Penso que ela pôde sentir a minha emoção, sim, eu vi o brilho nos olhos dela quando nos conhecemos pessoalmente em Buenos Aires e nos abraçamos. Embarcaríamos em Buenos Aires e o navio atrasaria 1 dia, dia esse que passamos ciceroneadas pela Zelfa, praticamente uma portenha. Parques, cafés, chás, hotéis, vistas maravilhosas da cidade que eu já conhecia mas que teve um brilho diferente, afinal, zarparíamos do mesmo porto que Shackleton, 102 anos e 6 dias depois.

O navio, Hebridean Sky, foi perfeito, com Staff e tripulação de primeira, palestras sobre fauna, geologia, ciência, história, e claro, Shackleton. Fizeram os longos dias de travessia dinâmicos e divertidos. Pisei enfim no continente gelado em 14 de novembro de 2016, celebrei a minha história pessoal, vivi meu sonho de menina na tão sonhada Terra Australis Incognita que já habitava as especulações sobre a sua existência desde a grécia antiga. 

Eu reverenciei Shackleton e os homens do Endurance e tantos outros que por ali passaram, reverenciei mais que isso, reverenciei a existência da providência de Deus, revenciei um continente. Se a Amazônia é o pulmão do mundo, pode se dizer que o coração é a Antártica. Pois eu deixei meu coração lá e nunca mais serei a mesma.

Obrigada Zelfa!

" Nada é impossível, até acontecer" - Nelson Mandela.   Daniela S. , SP – a bordo do Hebridean Sky embarcando em Buenos Aires Oct 31, 2016 as Malvinas, Georgias do Sul e Península da Antártida.

 

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